Por Pedro Nonato *
No dia 26 de novembro publiquei um pequeno artigo com três dicas de programas para a passagem de ano em Paris. Uma para solteiros, outra para casais e outra para família.
Um dos leitores comentou o artigo, criticando-o e dizendo que este havia sido um artigo infeliz porque, “como diria Danuza, se o porteiro do prédio pode ir hoje à Paris fazer esses programas que graça tem?”. Fiquei triste.
Não com a crítica, mas com o artigo – sob o título “Ser Especial” – que a Danuza havia publicado um dia antes, em 25 de novembro, na Folha de São Paulo e que pode ser aqui acessado: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/danuzaleao/1190959-ser-especial.shtml
É verdade que ela publicou, após a negativa repercussão, um pedido de desculpas, no “PS 2” de se artigo – “Coisas em Geral” – publicado em 02/12 e que também pode aqui ser acessado: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/danuzaleao/1194644-coisas-em-geral.shtml
Quero deixar bem claro que sempre admirei Danuza Leão como mulher, jornalista e escritora mas não posso deixar de me orgulhar de um Brasil que pode exportar porteiros, operários, técnicos e toda uma nova classe média para conhecer o mundo porque poucas coisas na vida oferecem janelas de conhecimento, aguçam a curiosidade ou abrem a cabeça como viagens (e não só para o exterior, é claro – mas é mais caro dentro do Brasil).
Por sorte e força do trabalho de meu pai, que serviu em algumas ocasiões ao Itamaraty, pude morar em Buenos Aires, Lisboa, Washington, DC e Paris (onde moro pela segunda vez e ele, sortudo havia morado em Madrid e Londres antes do meu nascimento) e, nesta época, na boa e velha Varig, tínhamos que viajar de paletó e gravata.
Hoje em dia, ao entrar na TAM ou na Air France com seus aviões gigantescos descendo em Charles de Gaulle (a Varig operava em Orly Sud, só depois se rendeu ao mega aeroporto), vemos mesmo como o turismo está democratizado e não é só na econômica não, nas salas VIPs hoje encontramos mais de 100 pessoas (no Galeão) e mais de 300 (Ternimal E de CDG).
Vai ter VIP assim no mato, não?
Aliás isso me lembra um monte de pessoas que diz que os aeroportos brasileiros parecem rodoviárias e das quais acho graça porque, mundo afora, a maioria dos grandes aeroportos parecem mesmo rodoviárias cheias de malas, gente, crianças berrando e avisos sonoros.
O problema é que os nossos aeroportos são mal aparelhados, mas isso são outros 500. Ou 500 milhões, sei lá. O que sei é que não há mais como diminuir o fluxo turístico mundial, são porteiros, operários, técnicos de todos os países do mundo se entrecruzando no ar e descobrindo as maravilhas de outros povos e outras culturas num gigantesco e maravilhoso intercâmbio planetário que aproxima mais as pessoas e diminui a desconfiança entre governos.
Amo viajar, a cada vez que entro em um avião e chego a um destino (mesmo que lá já tenha estão muitas vezes) me divirto, curto, interajo, aprendo e é claro, fujo das multidões de turistas que estão em todos os cantos e recantos das cidades e das atrações.
E, para fechar, queria dizer que esse Brasil que exporta porteiros é o Brasil que cresce, é o Brasil que sempre sonhamos e também dizer, antes que alguém aí me chame de ingênuo ou petista, não voto: justifico há mais de 26 anos.
* Colaborador e correspondente da Coluna Esplanada em Paris