Por Carol Purificação, repórter da Coluna
O polêmico “Desafio PF 2025” rendeu mais uma: O Sindicato dos Policiais Federais em Pernambuco (SINPEF/PE) soltou uma nota de repúdio contra a competição. O documento acusa o desafio de banalizar a investigação criminal e a preservação da ordem jurídica. Faz um alerta também para as consequências, como a competição interna e distorções operacionais graves, afetando assim o desempenho dos trabalhadores do setor.
Além da integridade física dos policiais federais, o SINPEF adverte também para os riscos à saúde mental dos agentes. Visto que são uma categoria com um preocupante índice de adoecimento mental. O suicídio entre a categoria cresceu 26,2% em 2023 e se tornou a maior causa de morte entre eles, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024.
O “Desafio PF 2025”, que iniciou no último dia 10 e irá até setembro, é uma competição entre as superintendências do Brasil com o objetivo de aumentar a produtividade e os resultados da instituição, conforme divulgado pela Coluna. Entre os prêmios estão: uma viatura nova, celulares e smartwatches e uma viagem-missão para servidores de delegacias vencedoras.
Leia na íntegra a nota de repúdio do SINPEF/PE:
NOTA DE REPÚDIO – O SINPEF/PE CONTRA A GAMIFICAÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA
O Sindicato dos Policiais Federais em Pernambuco (SINPEF/PE) vem a público manifestar sua indignação diante da implementação do chamado “Desafio PF 2025”, um experimento equivocado que busca transformar a atividade policial em uma competição, como se segurança pública pudesse ser reduzida a uma métrica de produtividade.
A Polícia Federal tem como missão constitucional a investigação criminal e a preservação da ordem jurídica, atividades que exigem técnica, estratégia e precisão. No entanto, o “Desafio PF 2025” banaliza esse trabalho ao introduzir um sistema de premiações e recompensas para quem mais produzir, ignorando a complexidade das investigações, a necessidade de inteligência policial e o impacto humano da atividade investigativa.
Não há espaço para a lógica de metas empresariais quando lidamos com o combate ao crime organizado, à corrupção e a outros ilícitos de alta complexidade.
A gamificação do trabalho policial representa um retrocesso perigoso. O estímulo à competição interna desconsidera o espírito de cooperação necessário para o sucesso das investigações e pode levar a distorções operacionais graves, em que a busca por números pode comprometer a qualidade das investigações e, pior, gerar riscos à integridade dos policiais federais.
Afinal, quem se responsabilizará pelos efeitos colaterais dessa política quando, sob pressão, procedimentos forem acelerados em detrimento da segurança jurídica e da legalidade das operações?
Além disso, o impacto dessa medida sobre os servidores não pode ser ignorado. A Polícia Federal já enfrenta um preocupante índice de adoecimento mental entre seus agentes, agravado por um ambiente de trabalho hostil, escassez de efetivo e a ausência de uma carreira estruturada e valorizada.
Adotar um modelo de competição por produtividade como solução paliativa é desconsiderar a real necessidade de investimentos na valorização dos servidores, na reestruturação da carreira e na promoção de um ambiente de trabalho digno e saudável.
O SINPEF/PE não compactua com iniciativas que tratam a segurança pública como uma corrida por indicadores estatísticos e reafirma seu compromisso com uma Polícia Federal estruturada com base na meritocracia, na qualidade do serviço prestado à sociedade e na proteção dos seus servidores.
Não aceitaremos que a busca por resultados seja imposta às custas da saúde e da dignidade dos policiais federais.
A Administração deve entender que a excelência operacional não se constrói com competições e pressões desmedidas, mas com condições adequadas de trabalho, respeito à expertise dos profissionais e reconhecimento legítimo do desempenho.
Por isso, repudiamos veementemente o “Desafio PF 2025” e conclamamos a categoria a resistir a essa política que coloca em risco a integridade dos servidores e a qualidade do trabalho investigativo.
Alexandre Luna, Presidente do SINPEF/PE