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Brasília - 24 de novembro de 2024 - 9:07h
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Randolfe: “Quero contribuir para que o PSOL seja um grande partido de esquerda”

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Em entrevista a Aderbal Filho, em Santa Catarina, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), um dos expoentes da CPI do Cachoeira, reforça que trabalha para consolidar a imagem do partido como uma força esquerdista no país.

Eleito pelo Amapá, Randolfe Rodrigues (PSOL), o mais jovem senador do Brasil, foi uma das maiores surpresas das eleições de 2010. E mostrou para que veio já no início de seu mandato, ao lançar-se como candidato a presidente do Senado e contrapor-se programaticamente às candidaturas dos grandes partidos e seus acordos.

Sua ferrenha oposição ao novo Código Florestal, sua intervenção na CPI do ECAD, e mais recentemente, sua postura na CPMI do Cachoeira, vêm assegurando ao agora astro solitário do PSOL no Senado posição de destaque no cenário político brasileiro.

Apesar da projeção já alcançada, da postura equilibrada e fala mansa, Randolfe não tem sangue de barata ao responder aos seus críticos interna e externamente ao PSOL.

Recentemente, em declaração à imprensa, tachou de fascistas os argumentos que o acusam maldosamente de favorecer a instalação de uma base militar dos EUA no Amapá.

No dia 11 de maio, após cumprir agenda de visita à reitora da Universidade Federal de Santa Catarina recém empossada, Roselane Neckel,  Randolfe concedeu entrevista onde esclarece algumas declarações polêmicas que estremeceram as bases de seu partido e fala das perspectivas do PSOL para as eleições municipais de 2012. “O PSOL é o meu projeto”, sentencia, prevendo que a legenda tem vocação para ser um grande partido de esquerda no Brasil. Confira a íntegra da entrevista a seguir.

*Recentemente uma nota na Folha de São Paulo insinuava que você poderia
desembarcar do PSOL, agitando as bases do partido. Isto é real?*

*Randolfe Rodrigues* – O meu projeto é o PSOL! Não vejo alternativa
político-partidária de esquerda mais conseqüente no cenário brasileiro. O
que às vezes me deixa triste é o clima de dificuldades, de resistências, de
autofagia interna no PSOL. Parece que há uma vontade de destruir
principalmente as lideranças políticas do partido. Esta nota na Folha
surgiu de um questionamento sobre o que eu faria caso o PSOL me excluísse.
Este quadro não existe e a direção do partido não cogita isso.

*Mas é recorrente em setores da militância o questionamento dos seus
compromissos com o PSOL…*

*RR* – O PSOL é uma alternativa de construção de um campo de esquerda e que passa a ser identificado com bandeiras históricas que outrora o PT – que
até meados dos anos 90 foi a melhor experiência política dos oprimidos no
Brasil – defendeu. O PSOL tem que estar preparado para ser um partido
grande, um partido de esquerda, democrático e de massas, não um partido
estreito, de corporações, ou que dialogue apenas consigo mesmo.

Eu sempre defendi que é preciso firmeza nos princípios e flexibilidade na tática.
Acho que muitas críticas que fazem a minha pessoa e a supostas alianças não
correspondem. Disputei a presidência do Senado contra o Sarney, com um
programa de mudanças nas práticas parlamentares.

O Código Florestal que beneficiaria o agronegócio e os grandes latifúndios só não foi aprovado porque apresentei, ainda no ano passado, uma questão de ordem que atrasou a tramitação do projeto. Agora a presidente Dilma está sob pressão porque estamos próximos da Rio + 20 e espero que ela vete o projeto de código aprovado.

Estamos atuando fortemente para aprofundar as investigações sobre
as relações da organização criminosa do senhor Carlos Cachoeira com agentes
do Estado e lutando pra que a CPMI não termine em pizza. Acho que minha
atuação política diz de que lado estou. Quero fazer o debate democrático e
disputar os rumos do PSOL. Parafraseando o Chico Buarque, acredito que o
PSOL ainda vai cumprir seu ideal, vai ser um imenso partido de esquerda no
Brasil, e quero contribuir para isso.

*Também recentemente saiu no jornal O Globo uma afirmação sua de que
existem setores fascistas no PSOL…*

*RR* – O jornalista que me entrevistou foi extremamente competente,
destacando uma palavra que usei e que, fora do contexto, gera múltiplas
interpretações. Fui perguntado se de fato eu estava defendendo a construção
de uma base militar dos Estados Unidos no Amapá. Isso me irritou e declarei
que quem afirma isso é fascista, pois está mentindo. Ora, uma das máximas
de Josef Goebbels, ministro da propaganda nazi-fascista de Hitler, era de
que uma mentira repetida várias vezes vira verdade. Eu não disse que
existem setores fascistas no PSOL, eu disse que quem se utiliza da mentira
é fascista. Um socialista não se utiliza da distorção da verdade como
prática política. Dizer que a luta que estamos travando pela recuperação de
um patrimônio histórico no Amapá é defender uma base aérea dos Estados
Unidos em meu estado é uma mentira. Eu não posso acreditar que num partido
socialista haja setores com práticas fascistas.

*O PSOL surgiu do descontentamento com os rumos do PT e incorporou
militantes e setores com diferentes experiências e trajetórias políticas. E
tem uma base radicalizada e muito sensível ao que sai na imprensa ou nas
redes sociais. Isso pode prejudicar o seu desenvolvimento?*

*RR* – O PSOL surgiu numa circunstância bem diferente daquela que gerou o
PT, no final dos anos 70 e início dos anos 80, quando houve o declínio da
ditadura e a ascensão dos movimentos sociais, num movimento que teve seu
ápice com a Constituinte de 1988. O PSOL nasce no meio de uma crise
política de identidade do PT e de resistência de diversos setores. O PSOL
nasce do movimento de uma senadora e de deputados que se opuseram à
conversão do PT ao Capital. Mas parece que alguns esquecem, preterem,
secundarizam que o PSOL nasceu fundamentalmente de uma intervenção
institucional no parlamento. E me parece que alguns querem negligenciar a
importância da atuação também no espaço institucional. Nós vivemos um
momento histórico onde o PSOL é uma trincheira de luta e resistência dos
socialistas em contraponto à lógica dominante. Mas parece que alguns acham
que o PSOL nasceu para ser sempre um partido pequeno. Eu não penso assim.
Eu nasci e cresci fazendo crítica. Nasci na escola da construção política
coletiva. A tradição política que me forjou me ensinou que o coletivo é
maior e melhor que o individual. Quero ser criticado internamente com
honestidade e quero debater com companheirismo. Acho que a lógica do debate no PSOL não deve ser a de destruição de lideranças.

*Mas há setores do PSOL bastante susceptíveis a informações nem sempre
verídicas, a reproduzi-las e que costumam criticar e cobrar bastante de
seus dirigentes e parlamentares…*

*RR* – Há uma forte tendência à luta interna no PSOL, mas ela não pode e
não deve ser maior do que a perspectiva da construção coletiva. É melhor
perguntar e dialogar do que ficar reproduzindo inverdades.

*Parece que muitos no PSOL identificam uma dicotomia entre ação
institucional e ação nos movimentos sociais. Isto pode interferir no
desempenho do partido nas eleições municipais de 2012, num momento em que o partido flexibilizou sua política de alianças?*

*RR* – Eu acho que a dicotomia entre ação institucional e ação nos
movimentos sociais é falsa, principalmente porque um mandato no parlamento
ou no Executivo que não tenha lastro com os movimentos sociais não é um
mandato popular e socialista. Eu entendo que a intervenção do PSOL tem que
se basear no tripé luta institucional, luta social e formação política. Ou
seja, na educação do povo, na luta institucional e social pela superação da
opressão. Evidentemente que a intervenção na luta social e na luta
institucional tem que ser feita com independência e com base num programa
político de ação. Repito que defendo a firmeza de princípios e a
flexibilidade na tática.

A flexibilização na política de alianças do PSOL não significa que possamos fazer aliança com qualquer partido e a qualquer custo. E a direção partidária terá um papel importante no acompanhamento da implementação desta resolução em todo o Brasil. Acho que em 2012 teremos a possibilidade de um desempenho eleitoral positivo do PSOL. As avaliações são de que teremos um bom potencial de disputa com o Edmilson em Belém, com o Clécio em Macapá e com o Marcelo Freixo no Rio. E acho que teremos a possibilidade de muitas e agradáveis surpresas. Aqui em Florianópolis, por exemplo, teremos a candidatura do Élson, que espero que tenha um bom desempenho. De minha parte, acho importante e quero contribuir para que o PSOL eleja o máximo possível de prefeitos e vereadores em todo o Brasil.

2 comentários em “Randolfe: “Quero contribuir para que o PSOL seja um grande partido de esquerda””

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