A 1ª edição do EsplanaTalk – bate-papo com personalidades de diferentes setores da sociedade com nossa equipe da Coluna Esplanada – aconteceu nesta sexta-feira (23) com o experiente jornalista Luarlindo Ernesto, no alto de seus 79 anos e nada menos que 64 de redações.
Luarlindo contou um pouco sobre grandes histórias narradas por ele nessas seis décadas no jornalismo. O repórter nato foi um dos principais responsáveis em ajudar a Polícia Civil no combate ao crime nas favelas. Dentre tantas reportagens, Luarlindo colaborou com a prisão do mafioso italiano Tommaso Buscetta, conhecido como Dom Masino, ao localiza-lo em São Paulo. Desta prisão nasceu a delação na Itália que culminou com a famosa operação Mãos Limpas, liderada pelo juiz Falcone, que levou centenas de pessoas da máfia à prisão.
Sobre as maiores diferenças entre o Jornalismo atual e o de quando começou em 1958, Luarlindo comenta: “Comecei em 58, era o Jornalismo boêmio, irresponsável e gozador. Não existia release e direito de resposta. Se você tivesse um inimigo, colocava o nome dele no meio de uma história escabrosa e estava tudo bem. Ou seja, um Jornalismo super irresponsável. Era a época da cascata – você podia inventar histórias. Atualmente, chamamos de Fake News, mas naquela época era comum. Ouve muita mudança. Eu só acho engraçado que hoje tem um termo meio confuso “Jornalismo Investigativo”, nós já fazíamos isso na época, só que não tinha esse nome, a nossa função era ficar na frente das investigações da polícia. Na época inclusive tínhamos mais recursos. Porém, não existia a faculdade. E o Jornalismo era “bico”, a pessoa tinha seu trabalho e fazia um extra em um jornal.”
Sempre ativo, Luarlindo assina uma coluna semanal – “Histórias do Luar”, no jornal O Dia. Afirma ter saudade das coberturas nas ruas. E revelou ao fim que sua biografia está a caminho do prelo pelas mãos de uma veterana jornalista – além de um possível seriado de TV baseado em suas apurações.
Perfil Luarlindo Ernesto:
“Tenho 79 anos de idade. Comecei em jornal em outubro de 1958, aos 14 anos de idade. Encarei tiros e bombas, além dos cacetes da PM, no golpe de 1964. Fui demitido em 1965 depois do bloqueio econômico imposto pelos militares. Em 1965 já estava em O Globo. Cobri golpe na Argentina, com deposição do presidente, e furei os coleguinhas, driblando a censura (passei a matéria em gírias). Com o passar dos anos, fui para a Revista Manchete, acumulando com a sucursal da Folha de S.Paulo no Rio de Janeiro. Voltei para o Última Hora e acumulei a função de repórter com O Dia em 1974. Fui, em 1979, para o Jornal do Brasil e lá permaneci até 1992, quando o JB entrava em crise financeira. No JB, ganhei, em equipe, dois Prêmios Esso, incluindo a cobertura da Bomba do Riocentro. Localizei, em 1982, o mafioso Tommaso Buscetta, vivendo em São Paulo. Com a prisão dele, ainda em 1982, o Juiz Falcone, da Itália, prendeu militares, juízes, industriais, jornalistas e desmantelou a gangue internacional na investigação da Máfia com a Operação Mãos Limpas. Voltei ao O Dia em 1992 e permaneço no diário até hoje. Além do dia a dia, tenho coluna semanal “Histórias do Luar” desde setembro de 2019. Lamentavelmente, não consegui consertar o mundo.“