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Brasília - 26 de novembro de 2024 - 12:25h
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Petrolão é só meio caminho

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Toda essa encrenca que mobiliza o Poder político e empresarial da nação começou com uma cirúrgica operação da Polícia Federal em Brasília, a Miquéias, em final de 2013, que levou à cadeia o doleiro Fayed Traboulsi. O alvo da operação era uma lavanderia (sem trocadilho) que também operava como casa de câmbio dentro de um posto de combustíveis no coração da capital federal, e onde poderosos lavavam seu dinheiro. Um dos alvos era Carlos Habib Chater, o proprietário do posto e parceiro de Fayed.

À ocasião da Miquéias o mundo quase caiu sobre a cabeça de muitos engravatados de Brasília. Fayed é considerado o doleiro de 10 entre 10 abastados políticos corruptos e patriarcas de clãs conhecidos da província. É tanto dinheiro envolvido que o doleiro desfilava sem receios com uma Ferrari, uma Maserati, um Porsche, e navegava sobre o Lago Paranoá numa lancha considerada a maior do País, avaliada em US$ 5 milhões.

Mas Fayed, para a PF, era só um caminho, a trilha para o pote de ouro, ou o ‘boi de piranha’. Àquela altura, já trabalhava incessantemente em seu gabinete o juiz federal Sérgio Moro, e em parceria com os federais, conseguiu enfim chegar ao alvo em março de 2014: Alberto Youssef, considerado o maior doleiro do Brasil, para quem Fayed atuava em Brasília.

A Operação Miquéias foi uma ‘cortina de fumaça’ para não espantar o alvo principal e em especial apreender importantes documentos de Fayed que levariam a Justiça Federal a Youssef, e isso aconteceu. Com a Operação Lava Jato – em menção à lavanderia do posto de gasolina (lembram?) – a perícia da PF e o juiz Moro botaram a mão em pilhas e pilhas de documentos ainda hoje analisados pelos quais cai metade da República.

Foi pela Lava Jato que, coincidentemente, a PF chegou à ligação de Youssef com um dos seus principais clientes, Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras – e dali puxou o fio, prospectou, foi ‘furando o poço’ até achar a mina de corrupção na estatal e descobrir o tamanho do rombo que hoje chamamos de petrolão. Quase acidentalmente – digo quase porque Costa já era monitorado – o petrolão foi descoberto, trazendo à tona, através da operação de Youssef com Costa, a lavagem de dinheiro dos contratos fraudulentos da Petrobras. E dali revelou-se uma gama de importantes nomes de mandatários e empreiteiros.

Engana-se, porém, quem considera missão cumprida o cerco judicial a essa turma. O petrolão na verdade é o meio do caminho. O petrolão é um bom achado no mar de lama em que a Justiça pôs a mão. A Lava Jato pretende revelar, sob a força-tarefa do juiz Sérgio Moro, a maior rede de lavagem de dinheiro do País, com mapeamento e cerco à maioria das contas em paraísos fiscais operadas por Youssef para empresários e políticos – e não os mesmos do petrolão. São contas na Suíça, Ilhas Jersey, países do Caribe. Já tem tubarão com conta bloqueada no exterior e respirando veladamente por aparelhos no Brasil. Os advogados criminais nunca tiveram tanto trabalho – e nunca ganharam tanto dinheiro na defesa.Vem mais por aí.

Em suma, há dois tipos de pessoas muito preocupadas com o doleiro preso Alberto Youssef. Os da lista que o Procuradoria Geral da República e o STF vão revelar em breve e serão visitados pela PF às 6h de qualquer dia. Essa turma é a do varejo, da propina para pagar as continhas com o dinheiro do petrolao. E a lista maior, que a PF tenta arrancar, principal motivo da prisão do doleiro. Os poderosos que usaram seu serviço para abrir contas em paraísos fiscais e lavar dinheiro. Essa é a turma do atacado. É o pote de ouro. São clãs inteiros de empresários e políticos, alguns deles intimamente ligados.

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