Por Ricardo Borges
O dia 20 de novembro de 2013 vai ficar marcado na minha vida, assim como a data de 17 de junho desse mesmo ano, quando o Congresso Nacional foi invadido por milhares de jovens, que gritavam aos brados por um país melhor e mais digno. Essas duas datas, que relembram o período sombrio que o país vivenciou nas décadas de 60,70 e 80 – na ditadura militar -, mas, claro, de outra forma, modo e contexto.
No dia 20, acompanhei um grupo de parlamentares do Partido dos Trabalhadores que visitaram José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e o ex- deputado do PTB-MG Romeu Queiroz, no complexo penitenciário da Papuda, em Brasília.
Ao chegar ao local, o rosto dos parlamentares mudou, tomado pela energia negativa do ambiente e pela situação de ver os companheiros de partido passando por aquela situação.
Depois de uns 13 minutos, esperando a liberação para visitar os envolvidos na Ação Penal 470, passamos por um detector de metal, deixamos nossos pertences (celulares, bolsas e documentos pessoais) e fomos para a sala do diretor do complexo penitenciário para presos em regime semiaberto.
A sala de aproximadamente 15m2, pintada na cor verde, com cadeiras na cor preta e a mesa do diretor ocupando boa parte do espaço, estava muito quente e sem ventilação, e ficou rapidamente pequena com a quantidade de deputados.
Esperamos por cerca de cinco minutos no aguardo de Dirceu, Delúbio, Genoino e Romeu. Antes de os petistas entrarem na sala, que também tinha janelas no lado direito e na frente, com vistas ao complexo, os deputados avistaram os presos saindo do complexo em fila, com agentes na frente, do lado e atrás, num sol escaldante da Capital Federal.*
Os deputados que viram aquela cena começaram a chorar e a se emocionar. Todos chegaram juntos. Mas, o primeiro a entrar na sala foi Genoino.*
Ele estava com uma camiseta branca, com gotas de sangue próximo ao umbigo, calça da cor bege, tênis da cor preta com umas tirinhas laranja e com uma postura firme.
Chorou ao abraçar os visitantes.
Em seguida, veio Dirceu. Ele estava de camisa polo também na cor branca, bermuda bege e sandália de couro, na cor marrom. Depois chegou o Delúbio, também de camisa branca, bermuda bege, sandália branca e com os cabelos molhados.
Por último, apareceu Romeu Queiroz, que estava vestido de branco, calça bege e sandália. Depois de abraçar todos e todas, Genoíno falou em nome do grupo, com o tom de voz rouca. Contou como foi a prisão e como estava passando esses dias no complexo penitenciário da Papuda. Ele falou da situação de sua saúde e todos ficaram ainda mais preocupados. Durante sua fala, sempre mencionou a preocupação de Dirceu e Delúbio com sua saúde. Disse que teve que beber água da torneira, o que agravou seu problema de saúde e, após pedidos dos companheiros aos agentes penitenciários, liberaram água potável para ele.
Os presos demostraram muita indignação com a forma como foi organizada a operação midiática, em Brasília. Também informaram que chegaram ao delegado e o mesmo informou que não poderia prendê-los, pois não havia nenhum mandado de prisão.
Elogiaram a profissionalismo dos delegados e dos agentes. Recriminaram apenas atuação de um veiculo de comunicação do país (membro do PiG) pela forma como agiu na veiculação da prisão.
Genoino parou de falar e passou a palavra para Delúbio e Dirceu. Os dois disseram o que esperam e quais as expectativas daqui para frente. Pediram apoio aos parlamentares e falaram que cada um sabia o que fazer em suas “trincheiras”.
Como eu estava próximo de Delúbio, perguntei como era o tratamento dos outros presos com eles. Delúbio disse que eles estavam evitando aproximação com os presos, mas eles estavam enviando bilhetes de apoio e solicitando coisas.
No final, eles relembraram os momentos da criação do Partido dos Trabalhadores. Ficamos lá por cerca de 40 minutos e, em seguida, voltamos para a Câmara. A van que levou os parlamentares, que, antes estava “vestida” por conversas políticas, foi tomada pelo silêncio, pelo olhar de tristeza e indignação.
Confesso que foi um momento único em minha vida. Não sei se irei passar por outro momento como este. Aquele pequeno espaço de tempo tornou-se gigante e inesquecível!
Ricardo Borges é jornalista e assessor de imprensa na Câmara dos Deputados.