Por Marcos Troyjo *
O comércio e investimentos internacionais passaram por uma longa e exuberante expansão durante um intervalo histórico que vai do fim da Guerra Fria até 2008 e a “Grande Recessão”, que se abateu sobre a economia global.
Durante este período, observamos o fim da Rodada Uruguai do GATT e a constituição da OMC. A efetivação do Tratado de Masstricht, que aprofundou a integração econômica na União Europeia.
Assistimos também o aparecimento do Mercosul e do Nafta. Nesse pedaço de história, o comércio internacional multiplicou-se em dinâmica mais acelerada do que a da própria economia global.
Com desregulamentação dos mercados financeiros, também os investimentos fluíram mais desimpedidos por todo o mundo. Foi um período de mais integração, mais interdependência, fluxo mais desimpedido de bens, investimentos e pessoas; uma fase de “Globalização Profunda”.
Já a crise de 2008, cujo exemplo mais recente é a confusão no Chipre, deu início a um período a que poderíamos rotular de “Risco de Desglobalização”. Os termos de comércio e investimento têm sua expansão retraída. Aumenta o individualismo de cada nação de que resultam diferentes formas de protecionismo comercial e restrições a investimentos.
Nas últimas semanas, esta “inércia desglobalizante” foi aparentemente quebrada pela notícia de que Estados Unidos e Europa encontram-se em negociações avançadas com vistas a um acordo de livre comércio a entrar em vigor já em 2015.
Não apenas pela expansão dos termos comerciais que tal acordo projeta, todo o mundo será influenciado pelos padrões e normas técnicas a serem adotados no marco de tal aliança.
Diante desse quadro, como fica o planejamento brasileiro no campo de comércio e investimentos? Como fica o conceito de “mercados naturais”? Tradicionalmente, pode se classificar um mercado como “natural” de acordo com três critérios: proximidade geográfica, legado histórico-cultural comum e complementariedade econômica.
Nesse contexto, os mercados naturais em relação a que se deveriam orientar estratégias seriam os da América Latina (entorno geográfico), Portugal e a África Lusófona (laços culturais) e a China (complementariedade que permite comércio de acordo com o princípio das vantagens comparativas).
Há, no entanto, que se pensar também numa nova conceituação para mercados naturais. Dada a conjuntura presente, seriam também mercados naturais para o Brasil três outras configurações.
A primeira: aqueles que oferecessem plataforma de acesso privilegiado a terceiros mercados importantes (como é o caso de México e Colômbia, que gozam de acordo de livre comércio com os EUA).
A segunda: aqueles com quem o governo brasileiro partilha de afinidades ideológicas (como a Venezuela, que favorece parte importante de seus parceiros comerciais com base na “empatia” que mantém pelos dirigentes brasileiros).
A terceira, aqueles parceiros, sobretudo na África, que se veem estressados pela presença e estilo negocial e administrativo das corporações chinesas – e que reclamam maior presença do Brasil, a ele acenando com apetitosas oportunidades de negócios.
* Marcos Troyjo é diretor do BRICLab da Universidade Columbia e professor do Ibmec