Evandro Teixeira era o tipo de fotógrafo que saía da redação com uma pauta e voltava com três. Andava apressado com até três máquinas de foto penduradas no pescoço até a sala do editor e avisava o que tinha visto pelo caminho. Um nato jornalista. Em 1980 – ele mesmo me contou há uns 10 anos – sem qualquer pretensão, ele fez o Papa João Paulo II se ajoelhar a seu pedido. Sim, ele explicou: chegou atrasado à muvuca de fotógrafos já agrupados para a famosa foto do Papa beijando o chão. Montava sua escadinha (eram 3 degraus, às vezes a levava, era o diferencial!) e perdeu o beijo. No que, para surpresa geral, gritou lá de trás: “Oh seu Papa, beija aí de novo!”. E, contam amigos, o Papa se ajoelhou novamente para o famoso beijo no solo sagrado brasileiro.
Fez amigos e contatos por onde passava – com seu jeito inquieto, sempre precisava ir a algum lugar. Uma noite de 2003, essa pressa dele foi ridícula – me deixou para trás numa pauta no Paço Imperial, no Rio, quando o presidente Lula discursava ali sobre a Petrobras, e foi embora com o motorista. Cheguei à redação xingando – ele passou a me respeitar mais. Esse seu jeito “entrão” rendeu momentos memoráveis. Numa tarde de sábado, encontrou Tom Jobim, Vinícius de Morais e Chico Buarque na casa de um deles. Eles bebiam em conversa fiada. “Deitem aí nessa mesa para eu tirar uma foto”. E assim nasceu aquela clássica.
Nesses 70 anos de fotojornalismo, rodou o mundo em fotos e exposições delas. Nunca perdeu o pique de jovem, apesar de um velhinho. Há uns 10 anos, nos encontramos no Gávea Shopping, quando marcamos uma almoço. Ele emoldurava fotos por ali. Me presenteou com uma linda, uma mulher anônima na praia em dia de chuva. Nunca soube quem era ela. Está aqui na parede de casa, assinada, uma homenagem a ele – e a ela. Tenho a honra de ser fotografado por Evandro dentro do Palácio das Laranjeiras, após uma entrevista com o então governador da época. Em um clique, pegou o ângulo de uma posada que enfeita a orelha de um dos meus livros.
Sua última exposição foi no CCBB Rio. A gerente-geral Sueli Voltarelli teve a sensibilidade a tempo de, há pouco mais de um ano, preparar uma detalhada exposição de fotos sua sobre o regime militar no Brasil e no Chile – onde Evandro, mais uma vez, viu e fez a História de perto: fotografou Pablo Neruda vivo, e infelizmente depois morto, sob autorização da viúva. Era amigo do casal.
Por dois anos, em 2012 e 2013, Evandro Teixeira foi colaborador do site da Coluna Esplanada, que eu edito. Pela amizade, gentilmente cedeu algumas imagens de arquivos seus, muitas inéditas, fruto de sua labuta incansável nas ruas. Confira aqui o arquivo ( https://shorturl.at/Wx9ZC ). Boa parte de seu arquivo foi comprado pelo Instituto Moreira Salles.
Evandro sempre foi um fotógrafo de gente e de momentos especiais dos fotografados, os eternizando com seu olhar peculiar. Ele morreu há pouco, aos 88. Foi tirar fotos com Deus – e com o saudoso amigo Orlando Brito, que está lá em cima o esperando.