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Brasília - 22 de novembro de 2024 - 11:01h
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Diário de um passageiro – Goiabeiras, a rodoviária, e Santos Dumont, O terminal

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Décimo trecho

-> Rio (Galeão) – Vitória (Goiabeiras), Dia 03 de Janeiro, voo 1573, Gol, 18h42

Tenho fascínio por aviões, de todos os modelos e tamanhos. Uma genial invenção humana. Desde criança me incita o fato de como toneladas saem do chão e voam a velocidades incríveis. É espetacular assistir ao homem inventar e aperfeiçoar aeronaves. Mas ao passo que vejo o feito como uma das grandes conquistas da humanidade, não entendo, mesmo, como falta inteligência aos que planejam aeroportos. Principalmente no Brasil.

Constatei isso nessas viagens recentes com o que vi nos 12 terminais em que passei durante um mês. O descaso de décadas, por gestões seguidas, da estatal que administra os terminais parece ter aterrissado em todos eles. Em situações mais visíveis ou não, estruturais ou técnicas, logísticas ou outras quaisquer, percebe-se que o Brasil embarcou num avião sem rumo e comandantes seguidos tentam, em vão, achar o destino para o pouso seguro do setor.

Vitória, a capital capixaba, é outro exemplo de dezenas que vi pelo país de descaso dos governos e da Infraero. O aeroporto fica praticamente a beira mar, com pista paralela em menos de dois quilômetros da praia. Uma pista transversal foi rasgada em meio à vegetação litorânea, e dali só se vê terra e mais terra, máquinas largadas. A obra da segunda pista já foi embargada seguidas vezes pelo Tribunal de Contas da União por suspeita de sobrepreço.

Perdem os passageiros, que devem se contentar, a exemplo de outros terminais, em andar pela pista, com chuva ou sol, sem ônibus para transporte remoto, até entrar numa construção que lembra uma rodoviária mal cuidada de qualquer cidade do interior. Até ano passado, uma única esteira de reposição de bagagem era disputada pelos passageiros (certa vez, em 2008, vi um senhor correndo atrás de sua bagagem, em cima da esteira, se contorcendo para não cair com o movimento da lona). Agora, a Infraero fez o conhecido puxadinho, algo que já relatei aqui – vigas de ferro, gesso nas ‘colunas’ e no teto, mármore brilhoso no chão, com sistema de ar condicionado. É um cenário que o deixa tenso, à espera do desmoronamento no primeiro temporal.

O novo saguão de reposição de bagagem do Goiabeiras. Muito bonito, para quem não viu o antigo
O apertado saguão de embarque de Vitória: contraste total com o do desembarque

Fora dali, a poucos passos se entra no saguão principal – ou o que deveria sê-lo. Mas depara-se com uma multidão de passageiros incontidos, entre cadeiras espremidas e filas intermináveis para os balcões de check in, um pé direito muito baixo para um movimento do porte, o que torna o ambiente abafado. O aeroporto de Vitória perde para uma rodoviária bem cuidada. Em poucos passos se passa pelo check in e vê-se o fim do saguão, com uma lanchonete pequena– a única do lugar – e algumas lojinhas. Dali, logo em frente, a porta estreita para o embarque. Lá dentro, vê-se pelas fotos, o saguão de embarque não suporta mais o trânsito de passageiros. Poucas cadeiras, gente em pé e no chão. Isso tudo porque era a turma de apenas um voo de Boeing 737.

A conexão de duas horas que fiz em Vitória na noite do dia 3 de Janeiro foi o suficiente para não querer passar por ali novamente, não com essa estrutura. Apesar de a bela cidade – e, creiam, todo o litoral do Espírito Santo – valerem a visita. Desde Marataízes, passando por Piúma, Iriri, Anchieta, Meaipe, Guarapari, e vai-se subindo até perceber que as praias capixabas se unem às baianas no quesito beleza e natureza.

Cheguei em Vitória aquela noite vindo do Galeão, no Rio, já alvo de reportagem desta série. Mas creio que devo fazer justiça a um aeroporto que considero o mais bonito do Brasil. Pela sua beleza arquitetônica, bom traçado aliado ao cenário natural que o circunda: o Santos Dumont. Eu o citei na primeira reportagem, quando lá desembarquei dia 5 de Dezembro e por lá passei dia 6 e o fiquei curtindo até perder um voo.

O terminal , por inteiro, dá conta do grande movimento. E as trapalhadas ali, em muitos casos, são das companhias aéreas, com voos atrasados, ou pelo mau tempo. A bolha de vidro do terminal de embarque, sem igual no mundo, faz o passageiro aproveitar cada segundo de qualquer voo em atraso – e por horas, acredito, apostaria que as reclamações dos passageiros seriam compensadas com a bela vista. Muitos sanitários, e bem distribuídos, além de fraudários. Bom serviço de cafés e livrarias. E lá fora o mar da Baía de Guanabara, com o Pão de Açúcar, a saudá-lo. O Santos Dumont é também um mirante.

Embarque do Santos Dumont - a bolha de acrílico permite boa visão do belo cenário e entrada de luz natural.

Como nada é cem por cento nos aeroportos do país, o Santos Dumont, por melhor que seja, peca no serviço de alimentação. Apenas uma lanchonete no térreo – entre os dois terminais. Menos de quatro no segundo andar do terminal novo. E, no terminal antigo, dois restaurantes que exploram seu bolso. Uma dica: se estiver com fome ali,  coma um salgadinho. Num buffet, a comida a quilo é ruim. No outro, logo em frente, é regular mas cobram até R$ 65 por pessoa.

É fato é que Alberto Santos Dumont, o patrono deste terminal, foi um dos pioneiros da aviação, mas se os brasileiros fossem os inventores também dos aeroportos talvez estivéssemos na vanguarda do setor. O Brasil precisa decolar.

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A série abrange as viagens do repórter realizadas de 5/12 a 3/01.
Reproduzida no Congresso em Foco Correio do Brasil  e Opinião e Notícia 

3 comentários em “Diário de um passageiro – Goiabeiras, a rodoviária, e Santos Dumont, O terminal”

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