Sétimo trecho
-> Recife – Aracaju, 19 de Dezembro, voo 5217, Trip Linhas Aéreas
Anos atrás, eu tinha a impressão de que os serviços de alimentação nos aeroportos eram caros porque os passageiros tinham poder aquisitivo. Tradicionalmente, só encontrávamos as classes A e B voando. De duas décadas para cá, a demanda cresceu, novas companhias voam, as passagens baratearam – creio que podem mais – e cidadãos das classes C e D, merecidamente, descobriram as vantagens da aviação comercial. No entanto, os serviços encareceram. E os terminais, sabemos, ficaram pequenos. Não houve investimentos para ampliação.
Madruguei às 5h no Aeroporto de Guararapes, no Recife, para voo rumo ao Aeroporto Santa Maria, em Aracaju. De jejum, a primeira coisa que fiz ao entrar no terminal de embarque foi procurar uma lanchonete. Não pomposa, simples como as que encontramos nas ruas, mas diferenciada no preço. Uma xícara de café com leite e um salgado me saíram a estupendos R$ 10. (compram-se três xícaras e três salgados do tipo num bar de mesma categoria em qualquer capital). Em Aracaju, outra facada no bolso. Um café pequeno com leite e um folhado me saíram por R$ 11.
Lembrei, então, de algumas informações de fontes do setor aéreo a respeito desses espantosos valores. Por que se come caro nos aeroportos brasileiros? A equação é confusa, levando-se em conta as explicações das partes. Os comerciários inquilinos culpam a Infraero, que cobra altos valores dos aluguéis, que são repassados, obviamente, para o preço dos produtos – do contrário o cidadão perde o ponto. Já a Infraero explicou, quando provocada, que faz o cálculo sobre a demanda do ponto, e, claro, se tem gente que consegue pagar um valor x para o aluguel, é porque fatura x e meio ou mais que isso, daí vem o pensamento da estatal. E sobra para o seu bolso.
Fato é que uma vez procurei alguns inquilinos e descobri preços absurdos. A pequena lanchonete – e única, vejam a política de exclusividade que já citei – no saguão 2 do Aeroporto JK, em Brasília, cobra até R$ 7 uma média (o café com leite!). Ali, certa vez, um dos proprietários me confidenciou, meio à brinca, meio sério, que desembolsava mais de R$ 70 mil de aluguel mensal. Oficialmente, a Infraero me informara depois que seriam R$ 26 mil. Mesmo assim, acho um preço absurdo. E se você também considerou, é porque não conhece outros casos. O Café Viena no terminal principal do JK, que pegou o ponto há menos de dois anos, paga até R$ 190 mil mensais. Em Cumbica, Guarulhos, já foi noticiado que o contrato do McDonalds seria de R$ 490 mil mensais. Os preços decolam, seu bolso, idem.
Com a esperada concessão de três aeroportos, a situação neste caso pode mudar, ou para ser mais direto, baratear. Foi o que me relatou o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, em entrevista há menos de dois meses. A Infraero, nestes e espera-se nos outros aeroportos, vai instalar máquinas de autosserviço para biscoitos e bebidas, freezers verticais e afins. Isso obrigará as lanchonetes a baixarem os preços. Essa é a meta. Não duvido, porém, de os atuais concessionários dos serviços de bar e restaurante abocanharem mais essa benesse nos corredores, se os editais não forem claros.
Sobre Aracaju – que bela cidade, tanto de cima, quanto no chão! – o aeroporto é o suficiente para a capital. É pouco movimentado, recebe voos esporádicos, em menor quantidade em relação a outras capitais do Nordeste. Isso se deve, em parte, à tradicional migração de sergipanos para Salvador ou Maceió, onde as companhias nacionais e regionais operam com maior frequência. Uma injustiça com o estado sergipano. Há uma crescente demanda imobiliária e o estado cresce, movido principalmente pela exploração petrolífera e outros setores. Cedo ou tarde as companhias serão obrigadas a aumentarem suas escalas em Aracaju.
A pista de 2 mil metros é boa, a cidade é toda plana por ser litorânea, e a nível do mar só um piloto muito meio-manche faria alguma trapalhada em Aracaju. O terminal é pequeno, mas simpático e organizado. Porém peca, a exemplo de outros, na estrutura. Anda-se à vontade na pista em meio a tratores, caminhões-tanque e aviões. Um deslize dos fiscais de pista – quando há! – e uma criança corre para a pista ou para perto de uma turbina ligada. Não há ônibus de transporte remoto, pela curta distância entre aeronave e saguão de reposição de bagagens. Curta, mas perigosa.
E bagagem também sofre. Assim como em Teresina, apenas uma esteira em atividade.
Notei que, ao contrário de outros aeroportos da região com alto poder turístico, apenas em Aracaju é latente a preocupação com o combate ao turismo sexual. Um dos cartazes distribuídos pela Infraero, perto de um balcão de check in, tinha a inscrição “If you’re looking for sex tourism, we’ve already booked the best room in town” , com a imagem de um homem atrás das grades. Boa dica.
Do lado de fora, um passo e você fica refém dos taxistas, que monopolizam a área. Não há serviço de ônibus executivo para o Centro da capital, e os urbanos passam com intervalos imensos – o suficiente para deixar ou pegar os funcionários das poucas lojas do terminal.
Voei de Trip de Recife para Acaraju, desta para Salvador e de lá para Belo Horizonte. Nunca havia subido num ATR, o avião turbohélice francês usado pela aérea. À primeira impressão, o medo. Parece uma banheira barulhenta se arrastando. Decepcionei-me com meu preconceito. O avião é uma potência, e sobe fácil. Assim como o preço do café com leite nos terminais.
A série abrange as viagens do repórter realizadas de 5/12 a 3/01.
Reproduzida no Congresso em Foco, Correio do Brasil e Opinião e Notícia