Nono trecho
-> Salvador – Confins, Dia 20 de Dezembro, voo 5241, Trip Linhas Aéreas
Em qualquer horário do dia ou noite que se desembarca ou embarca no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, ou Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, tem-se a sensação de que falta espaço, desde a entrada, passando pelo saguão do check in, até o embarque (principalmente este setor). Mesma sensação tem o cidadão que chega à reposição de bagagens. Tudo ali é apertado e pequeno, não faz jus ao estadista que lhe deu o nome. O passageiro se sente angustiado no estacionamento, na passagem para tráfego de veículos dentro do terminal, nos restaurantes, no check in, etc. Construído para desafogar o Aeroporto da Pampulha e ser base para voos internacionais, Confins virou uma via crucis para quem o utiliza.
Dentro da capital, com uma das cabeceiras praticamente colada à famosa lagoa, o Pampulha recebia a grande parte dos voos nacionais direcionados a BH até há poucos anos, quando a Infraero decidiu deslocar considerável tráfego para o Confins. Foi necessário. Pelo aumento absurdo do número de voos sobre a capital, pelo tamanho dos aviões que começaram a operar na pista pequena – entre Boeing e Airbus – e porque Confins estava ‘abandonado’. Apesar de o grande fluxo de passageiros ter ido para mais de 40 quilômetros do centro de BH, as insaciáveis companhias aéreas ainda fazem lobby pesado para voltarem a operar no Pampulha, onde hoje só decolam e pousam aviões de médio porte (jatos executivos ou comerciais de até 30 passageiros). Daí essas companhias serem alvo da cobiça das grandes, pelos slots (as reservas preciosas para pousos e decolagens nos aeroportos)
O Confins precisa de uma ampliação urgente, em todos os setores. Embora não à vista do passageiro, a meu ver talvez o que mais precisa de investimento em ampliação. Os nove fingers distribuídos frontalmente ao terminal espelhado não dão conta mais do movimento, especialmente porque BH comemora maior número de voos internacionais diretos ou em escala/conexão no terminal.
Mas nota-se que a ‘gaiola’ gigante dá sinais de deterioração. No desembarque o cidadão desce uma escada rolante apertada – e só por ali se vai, ou por uma de concreto também apertada, em meio a duas rolantes. Passa-se por um corredor afunilado e quando se espera um salão amplo para a reposição de bagagem, o passageiro depara-se com um bem restrito, com mínimo espaço de circulação de pessoas e carrinhos entre as esteiras e nos corredores de saída. E ali, claro, a máfia dos táxis conforme já relatei em outras reportagens dessa série. Lado a lado, contei quatro cabines com atendentes aos gritos, desesperadas por um passageiro. Tem-se a opção de um serviço de transporte em ônibus executivo, que para em pontos específicos do Centro de BH, com preço mais em conta: até R$ 18. Mas nem sempre o ar condicionado funciona. Passei por isso em setembro, na ida e na volta.
O salão de embarque é um outro desastre. No piso superior, existe apenas uma passagem, estreita, onde ficam quatro máquinas de raio x que dão acesso ao saguão. Tão apertado, faltam cadeiras e os que não as encontram contentam-se em vagar pelas lojas e cafés distribuídos pelo minúsculo espaço – obviamente, porque a Infraero não ia querer abrir mão do aluguel que lhe rende milhões de reais por ano. Ou seja, que se vire o passageiro. Os menos dispostos vagueiam e imploram um assento. Os mais jovens e descolados não se importam de ir ao chão. O cenário lembra um abrigo de desalojados. O terminal não acompanhou o crescimento da demanda por voos, e a entrada de uma nova companhia aérea de três anos para cá, que tem feito seus hubs (paradas estratégicas) também em Confins, piora a situação.
A Infraero se gaba de ter construído um senhor aeroporto, com boa pista de 3 mil metros – isso é fato, nem piloto meio-manche erra – numa região de renomada importância cultural e científica. A estatal destaca em seu site que “o mais antigo crânio de ser humano das Américas, que recebeu o apelido de “Luzia”, foi encontrado a apenas 2.700 metros de uma das cabeceiras, numa escavação. É demérito, pois por ironia do destino, até Luiza, que era um crânio, não aguentou aquela muvuca de Confins e pulou fora dali.
Confins, que acaba de completar 28 anos, tornou-se uma grande, mas apertada gaiola – os passageiros parecem pássaros loucos para bater asas. Conseguem, mas depois de algum sofrimento.
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A série abrange as viagens do repórter realizadas de 5/12 a 3/01.
Reproduzida no Congresso em Foco, Correio do Brasil e Opinião e Notícia