O caminho do Poder na Câmara passou por Minas Gerais nos últimos dias.
Candidato do Palácio do Planalto à Presidência da Câmara dos Deputados, o petista Arlindo Chinaglia (SP), que já ocupou o cargo, almoçou ontem com bancada suprapartidária de 15 parlamentares em Belo Horizonte. Repetiu assim o roteiro feito pelo rival Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que passou pela capital mineira na quinta e sexta-feira em encontros similares. Ambos foram pedir bênçãos da forte – e esquecida pelo governo federal – bancada de Minas Gerais para a disputa do dia 1º de fevereiro.
Mais que a rota traçada pelos adversários, a polaridade Cunha x Chinaglia traz à tona uma disputa até então velada ano passado: a ala independente do ‘aliado’ PMDB, junto à oposição, versus PT e a base governista.
Corre por fora o mineiro Júlio Delgado (PSB), como terceira via, e apoiado por descontentes não ligados a Cunha e Chinaglia, ou ao grupo oposição x governo (não se pode desconsiderar Delgado. Todos se lembram no que deu essa disputa de base x oposição de poucos anos atrás que trouxe da noite para o dia, do submundo da Câmara, a figura de Severino Cavalcanti sentado na principal cadeira da Casa. Obviamente, cenários e personagens não se repetem; Delgado não tem qualquer similaridade com o perfil do ex-deputado pernambucano apeado do cargo).
Cunha mostrou poder na quinta e sexta, em jantar e almoço, paparicado também por base suprapartidária. Mas Chinaglia, mais prestígio ainda, e mostrou ontem que surge como forte adversário do deputado carioca que já se gabava da eleição fácil. Ninguém menos que o governador Fernando Pimentel deixou o gabinete e juntou-se ao séquito num restaurante de BH para ouvir as propostas de Chinaglia.
No pano de fundo, não apenas tornou-se uma disputa entre oposição & ala da base descontente x base governista, mas em especial o debate norteia os rumos de como a Casa vai tratar o Petrolão.
A lista de parlamentares propinados do doleiro Alberto Youssef será revelada em breve pela PGR, e sabe-se que muitos são os envolvidos na Câmara, inclusive os com mandato renovado. Cunha propôs uma versão 2.0 da CPI do Petrolão especial na Casa, e já fala no linha-dura Jair Bolsonaro (PP-RJ) como relator. A turma aplaudiu.
Ontem, Chinaglia disse que não tem medo de CPI, mas deixou entrelinhas que atuará junto com o Planalto para barrar a investigação, ou controlá-la, para que o óleo sujo a propina jogado na Casa não escorra para o piso do terceiro andar do Palácio do Planalto do outro lado da avenida.
Enfim, Cunha x Chinaglia tornou-se também uma disputa de prós e contra a CPI do Petrolão e suas consequências.