“Sidão entrega a paçoca na saída de bola”. Essas foram as palavras selecionadas pela equipe do site Globoesporte.com na divulgação — via Facebook — do erro cometido pelo goleiro Sidão, do Vasco da Gama. A edição mostra que a postura do Grupo Globo foi além de ridicularizar o jogador na televisão.
Na telinha, a Rede Globo entregou, com base em votação definida por internautas, o troféu de “Craque do Jogo” ao atleta que já estava abatido por ter a noção de que foi um dos responsáveis pela derrota de sua equipe. No domingo, 12, o Vasco perdeu do Santos por 3 a 0, com Sidão tendo participação negativa direta no primeiro gol do time paulista. A entrega da premiação, feita ao vivo após o término do confronto realizado no estádio do Pacaembu, em São Paulo, constrangeu não apenas o goleiro. Locutor esportivo à frente da transmissão, Luís Roberto enfatizou que a escolho do destaque foi feita por “ironia” do público. O comentarista Walter Casagrande reclamou publicamente nas redes sociais. Em meio à situação, a repórter Júlia Guimarães chorou, conforme noticiado pelo Portal Comunique-se.
O fato protagonizado pela TV Globo fez com que o canal recebesse duras críticas. Minutos após a situação, jornalistas, jogadores e clubes de futebol se posicionaram contra a decisão que, segundo muitos, acabou por humilhar Sidão (análise que é seguida por este redator). Acuado, o Grupo Globo divulgou nota oficial no próprio domingo. No documento, o conglomerado de mídia pede desculpas ao goleiro e tenta, de certo modo, justificar que o momento constrangedor só ocorreu por causa de “zoeira” organizada para dar o troféu de “Craque do Jogo” ao goleiro. Resultado: vai mudar as regras para a eleição do melhor jogador de cada partida. Agora, além dos telespectadores-internautas, os comentaristas escalados nas transmissões serão responsáveis pela premiação. O novo formato já valerá para os jogos transmitidos na noite desta quarta-feira, 15.
A nota do Grupo Globo reconhece ter sido responsável pelo constrangimento envolvendo o goleiro vascaíno. Sinaliza, ainda, que “por ser um profissional de alto nível no futebol brasileiro”, Sidão merece respeito por parte do conglomerado de mídia e de seus funcionários. O problema é que a empresa parece ter ignorado que a “zoeira” contra o goleiro foi além da TV. A chamada do Globoesporte.com não foi sequer citada no posicionamento.
Talvez, a companhia entenda não ser ofensivo afirmar que alguém “entregou a paçoca”. Da mesma forma que o Extra, diário também mantido pelo Grupo Globo, chegou a publicar comunicado na primeira página em 1º de setembro de 2017. O comunicado em questão não trouxe denúncia contra traficantes, milicianos ou políticos. O material em destaque trazia “informação” da mais inutilidade pública. O jornal avisou, naquela ocasião, que deixaria de chamar de “Muralha” o então goleiro do Flamengo. Para o veículo, Alex Muralha passou a ser Alex Roberto. Tudo isso “em nome da precisão jornalística”. Decisão que de jornalística, convenhamos, não teve nada. Foi só um ato para constranger uma personalidade pública e, quem sabe, ganhar alguns likes a mais nas redes sociais. Algo que se repetiu agora, tendo Sidão como alvo.
Por tudo isso, é possível dizer: o Grupo Globo “entregou a paçoca” no caso envolvendo o goleiro Sidão, deixando de praticar o bom e interessante jornalismo esportivo.
Por Anderson Scardoelli.