Por Marcos Troyjo *
Quase 3 bilhões de produtores e consumidores. China: oficinas de manufaturas baratas. Índia: galpões de call-centers e outsourcing a custos ínfimos. Estereótipos como esses, que de fato marcaram a ascensão econômica de China e Índia a um PIB nominal combinado de quase US$ 7,5 trilhões, serão cada vez mais raros.
Basta visitar os principais hubs industriais e tecnológicos desses dois países, como Schenzen e Bangalore, para perceber como a “Chíndia”, termo cunhado pelo parlamentar indiano Jairam Ramesh para designar o eixo mais pujante dos mercados emergentes na Ásia, entrou numa nova fase de adaptação criativa.
Para a China, a primeira fase de adaptação criativa significou a reorganização da sua capacidade produtiva para que o país pudesse tornar-se líder em exportações.
Fomentou ademais parcerias público-privadas que disponibilizaram o capital necessário à expansão da sua infraestrutura. Controlou salários, taxas de câmbio e fatores de produção para turbinar sua alta competitividade.
Na Índia, a adaptação criativa foi materializada, nos últimos 25 anos, pela provisão de alternativas mais baratas em áreas como tecnologia da informação, farmacêuticos e têxteis. Bangalore, o hub de TIs, floresceu graças a essa política, e converteu-se no berço de grandes conglomerados da indústria digital indiana, como é o caso da Infosys.
Agora, os mercados tradicionais dos Estados Unidos e da Europa estão em recuperação ou em contração pelas crises de passivos soberanos.
Consequentemente, a Chíndia está se voltando cada vez mais a si própria. A China implementa medidas anticíclicas voltadas ao desenvolvimento de cadeia de fornecedores locais nos mais diferentes setores.
Se um fabricante de aeronaves pretende vender seu produto para o cliente mais importante da China, que é o governo chinês, há que produzir, essencialmente, 70% dos componentes dos aviões na China, gerando, portanto, impostos e empregos no país.
A China tem reservas cambiais em torno de US$ 3,7 trilhões que muito ajudarão na conversão do modelo econômico de uma ênfase orientada a exportações para maior atenção ao mercado interno.
Aqui, é fundamental o conjunto de medidas para incentivar empresas de pequeno e médio porte, e não apenas megaempresas exportadoras, muito privilegiadas em termos de crédito e tributos na primeira fase da ascensão chinesa.
Na Índia, temos uma situação muito desigual. Quando se trata de tecnologia da informação, biotecnologia e farmacêutica, os avanços são grandes porque contam com um grande aporte de investimentos do setor privado.
As empresas multinacionais fazem suas pesquisas na Índia por causa do custo relativamente baixo de produção e do alto nível de capital intelectual humano lá existente. Hoje, na Índia, há mais telefones celulares do que banheiros. Há mais bilionários do que no Reino Unido e na França juntos.
Mas é também um país em que há pessoas mais pobres do que em todo o continente africano. Para a Índia fazer frente aos novos desafios, sua principal tarefa é a simplificação das práticas negociais e a paralela diminuição da burocracia. Além de tamanho, em ambos os casos, o continuado sucesso da “Chíndia” depende essencialmente de velocidade empresarial.
* Diretor do BricLab da Universidade Columbia e professor do Ibmec. Colaborador correspondente do portal da Esplanada em NY