O cenário de crise entre Poderes tão imprevisível é capaz de gerir um case político surreal. Com a base esfacelada e a oposição só falando em impeachment, um ex-parlamentar conseguiu trânsito livre no gabinete do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o convenceu a emplacar na pauta suas propostas engavetadas.
O goiano Sandro Mabel (PMDB), sem mandato desde 2013, tornou-se o “deputado” mais poderoso da Câmara.
É de autoria de Mabel o PL da regulamentação da terceirização de trabalho, aprovado na Casa, que entrará na pauta do Senado com vistas à sanção presidencial. E Cunha anunciou ontem que pretende aprovar em setembro a reforma tributária, numa emenda aglutinativa com base em projeto antigo de Mabel.
“É o melhor projeto”, justifica o ex-deputado, sem modéstia, em razão de a Casa ter outras dezenas de propostas – o que vai originar a Aglutinativa. E adianta o que levou ao acordo, em suma: “Prevê ICMS unificado para todos os setores e cobrança de alíquota maior no destino”. A proposta mais plausível para os líderes consultados por Cunha.
Mabel, que toca suas empresas, fará agenda mista agora. Esteve com Cunha e o relator da comissão especial da reforma, deputado André Moura. Acompanhará de perto o processo. Ontem já desfilava pelo salão verde e plenário.
Mabel diz que não tem pretensões políticas nem em Goiânia ou Brasília, e pretende “apenas ajudar neste momento”.
Em palestra no “Visão Capital” do Jornal de Brasília, network de empresários do Centro-Oeste, Cunha disse que os pilares da reforma são: incentivos fiscais, reposição de alíquotas e ICMS cobrado no destino.