A denúncia publicada numa revista no último sábado de que uma empresária pagou R$ 200 mil de propina ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e na qual cita que Manoel Dias ‘é nosso’, envolve muito mais que a acusação sobre um suposto esquema milionário de venda de registro sindical. Nos bastidores, descerram-se as cortinas de algo maior dentro do ministério: a disputa pelo poder no Comitê de Investimento do FGTS, com saldo de bilhões para investimentos.
Em entrevista, a empresária Ana Cristina Aquino disse que entregou dentro de uma bolsa Louis Vuitton a quantia ao próprio ministro. Ele nega e rebate que não há provas. Mas numa outra frente, Ana Aquino envolve o advogado do PDT no Paraná, João Alberto Graça. Segundo Ana, ele se tornou sócio de sua empresa no Estado, de carretas ‘cegonha’ para transporte de carros, a fim de abocanhar contrato com a Renault, recém-instalada na região; mas nada andou, e a empresa não saiu do papel.
É neste ponto que começa a encrenca, e aparece outra encrenca na esteira da denúncia. Não é apenas a acusação política. Há um jogo de interesses dentro do Comitê do Fundo de Investimento do FGTS. João Graça será (ou seria) o próximo presidente do comitê, com poder de caneta para direcionar investimentos do fundo. Mas agora é detonado por parte do conselho. Abriu-se, então, uma guerra entre dois grupos.
Um defende a posse de Graça na presidência, por direito de rodízio, como representante do governo. Outro o quer fora dali, e usa a denúncia da revista para extirpar do ministério a turma de Graça. Este grupo quer indicar para o cargo o representante da Caixa, Fábio Cleto.
E por trás dessa disputa de indicações, os objetivos de cada grupo: João Graça é contra a aplicação de R$ 9 bilhões do FGTS para a Petrobras no projeto do complexo petroquímico de Itaboraí (RJ), o Comperj. Os adversários internos de Graça trabalham pelo aporte para ajudar a petroleira no projeto. (Aqui, um parêntese: a destinação dessa vultosa quantia para a Petrobras é surpresa para muita gente graúda do governo. É outro mistério, já que a estatal informa estar bem das contas..)
Houve na Quarta à tarde uma tentativa de torpedear Graça numa eleição virtual. Não conseguiram por falta de quorum. O homem ganhou fôlego. A nova reunião será dia 26 de Fevereiro e muita coisa pode sair dos corredores até lá, contra os dois lados. A despeito de tudo, cabe ao MP denunciar o esquema do registro sindical, se houver provas, e à polícia fechar o cerco ao ministério.
Tudo igual. Não foi surpresa para o chanceler brasileiro Luiz Alberto Figueiredo a conversa ontem, em Washington, com Susan Rice, conselheira de Segurança Nacional dos EUA. Ele disse que está ‘tudo igual’. Por essa expressão, a despeito da fala codificada do ministro, depreende-se o que ele próprio já relatara em Setembro passado para pequeno grupo de parlamentares, no Itamaraty, quando a Coluna revelou o teor da conversa: Os Estados Unidos não vão pedir desculpas e continuarão a espionar, disse à época o chanceler. A visita a Washington, a pedido de Barack Obama e com o consentimento de Dilma Rousseff, é apenas mais um falso passo no jogo de interesses. ‘Tudo igual’ é tudo está no mesmo lugar.
Ponto Final. Pensar que os EUA vão parar de espionar é como acreditar em Papai Noel.