Por Marcos Troyjo
Aturdida com crescente isolamento e erosão da competitividade, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) propõe negociações para um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos.
Asfixiada pelo custo Brasil, cerceada pelo imobilismo e pequena escala do Mercosul, a indústria quer acesso privilegiado ao principal mercado comprador do mundo. Os EUA importam US$ 2,8 trilhões por ano. Só 1% disso vem do Brasil.
Historicamente avessa a acordos dessa natureza, a indústria parece conscientizar-se de que os riscos de pactos comerciais com EUA e Europa podem ser comparativamente pequenos. Pior é alicerçar parcerias econômicas em afinidades ideológicas de ocasião e num romântico latino-americanismo. Ou iludir-se com desfechos milagrosos nas rodadas da OMC.
Nosso Ministério do Desenvolvimento logo tratou de jogar água fria. Informou não prever conversações com os EUA. O Brasil estaria focado na concretização de um acordo Mercosul-União Europeia.
O desdém faz lembrar comentário de graduado integrante do Planalto em março último.
Questionado sobre a posição do país ante o mega-acordo comercial entre EUA e UE, a vigorar em 2015, o palaciano afirmou: “O Brasil acompanha as tratativas sem a afobação de um subordinado”.
Melhor no entanto termos pressa. E claro que negociar com a Europa também é bem-vindo –embora o Brasil tenha esperado anos até usar o seu peso relativo no Mercosul para retomar a conversa com Bruxelas.
Tanto Mercosul como UE demandam, contudo, processo de consulta a dezenas de países-membros. Alguns, como Argentina e França, carregam conhecido histórico de manobras protelatórias.
E a negociação agrícola, área sensível — e indispensável — de um acordo entre esses dois blocos, não apresenta hoje menos entraves do que há dez anos.
Por que então não começar igualmente uma negociação com os EUA? Não fazê-lo só pode representar falta de gente, vontade ou visão.
Entre os milhões de funcionários do Estado no Brasil, não conseguiríamos destacar contingente para tratar com os EUA?
Nos últimos dez anos, o Brasil relegou seus interesses comerciais nos EUA a segundo plano. Enquanto China e outros emergentes exponenciaram vendas, nosso comércio com os EUA teve crescimento pífio.
Em 1985, vendíamos US$ 7 bilhões por ano. Os chineses, US$ 3,5 bilhões. Em 2013, os EUA terão comprado cerca de US$ 30 bilhões do Brasil. Já a China fechará o ano com exportações aos EUA de mais de US$ 400 bilhões.
O escândalo da espionagem é exemplo de grossas e condenáveis barbeiragens dos EUA contra o Brasil e outros parceiros tradicionais. E hoje as relações entre Brasília e Washington estão estressadas.
Não buscar, porém, formas preferenciais de ingresso num mercado de US$ 16 trilhões é falta de visão. Por mais distantes dos EUA em termos de simpatias ideológicas, os chineses sabem pragmaticamente separá-las de seus interesses nacionais. Deveríamos fazer o mesmo.
Publicado originalmente na Folha de S. Paulo