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Brasília - 24 de novembro de 2024 - 4:38h
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Um boi para prefeito

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Por Leandro Mazzini *

Se me coubesse o direito de indicar um candidato político, eu lançaria um boi para prefeito.

Eles, os animais, em muitos casos são mais racionais que políticos dentro de seus ternos e taillers. Pois aí está a primeira vantagem do boi: ele não precisaria usar roupas, exibiria com elegância o seu couro, que é ferido para confeccionar bolsas para madames. Tem outra: O boi não gosta de festas, não bebe, não fuma, não precisa de carrão com motorista e nem de assessores.Por isso e por outras coisas, não precisaria ganhar salários milionários.

Ah, boi não pensa? Pois tem muito prefeito por aí que pensa e faz besteira. No boi temos o consolo de seu silêncio. Ele observa os humanos e sabe berrar na hora certa – quando precisa comer ou quando é ameaçado -, ao contrário dos homens políticos que berram sem pretextos e não veem no silêncio uma grande arma para a introspecção. Isso ! O boi é introspectivo e deve nos olhar com um misto de desdém e pena. Os bois não são capazes de fazer em seus currais as merdas que os prefeitos fazem em seus gabinetes.

Outra vantagem do boi como prefeito é que ele dispensaria o gabinete, então o povo seria poupado de demasiados gastos com luxúrias da politicagem. Despacharia do pasto, reuniria lá os seus pares e decidiria o que fazer diante de tantos problemas causados pelos humanos, contra os animais e contra a espécie humana. Em suas reflexões, os bois comeriam capim e discutiriam sem brigas ou rixas partidárias – são do partido da boiada e basta -; ao contrário dos prefeitos, que se encontram com seus secretários e se xingam, para marcarem uma reunião após a outra. Os bois já sabem do eu esses homens precisam: falta-lhes capim.

Em sua campanha eleitoral, o boi não teria gastos exorbitantes. Passearia calmamente pelas ruas da cidade e beberia água do rio, em vez de uísques pagos com dinheiro público para festas partidárias. Ele,o  boi, não pediria dinheiro a bicheiros ou a empresários corruptos, desdenharia dos palácios suntuosos e do ar condicionado, ficaria na rua  para ajudar a população, como puxar um carroceiro, aparar o capim do jardim de uma escola, mandar a vaca dar leite gratuito a quem necessitasse.O boi cederia parte de seu couro para o feitio de sapatos para alunos e, é claro !, alimentaria de fato a população. Ninguém percebe isso. O boi é tão bom pra gente que é capaz de se deixar sacrificar em detrimento da fome dos homens. Ele merece uma estátua em cada município.

É o prefeito que nos falta!

* Leandro Mazzini é jornalista e escritor, editor da Coluna Esplanada.

Crônica extraída do livro Corra que a política vem aí! (2010, Litteris Editora), 70 pág.
Capa e charges de Aliedo
Prefácio de Carlos Heitor Cony
Apresentação de Murilo Melo Filho

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