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Brasília - 22 de dezembro de 2024 - 0:25h
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A viagem de volta

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Vi em filmes! Falei sobre a escravidão! Assisti “Les Miserábles” em Londres, também em Nova York! Acompanhei a jornada de domingo a domingo dos chineses! Percebi o esforço dos quem trabalham em Tóquio e dormem em Nagoya, dos que pintam as ruas em Cuba e dos que dormem na rua em Buenos Aires. Sei dos que encontram nos aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários um lar. Dos que vendem bugigangas nas barraquinhas de Natal em Moscou e em Berlim. E dos que lavam pratos e servem as pessoas em Doha, Dubai e Ras Al-Khaiman.

Daqueles que se escondem em casas redondas com receio dos maus espíritos em Old London ou Port Elisabeth, na África do Sul . E dos que trocam dinheiro no meio da rua em Abuja, Nigéria. Não menos sofridos os que vivem em Little Haiti, em Miami, ou nos arredores de Baltimore e Washington, nos Estados Unidos.

Em todas essas situações há uma característica comum nesses personagens, quando falamos dos imigrantes : suas mãos! Os imigrantes (ou, em muitos casos, os sem pátria !) estão em toda parte, mas é na Europa que se tornam um estudo de caso.

Fazendo o caminho inverso dos conquistadores (ou invasores!) em busca das riquezas das Índias(ou de outros interesses inconfessáveis!) eles abarrotam os lugares em busca de sobrevivência. Os “franceses” da Costa do Marfim, os “holandeses” da África do Sul, os “ingleses” da Guiné ou da Península Arábica e por que não os”portugueses” do Brasil.

Com relação a estes últimos, no qual me incluo, a avalanche de quase 100 mil brasileiros na terrinha é algo a se destacar. Eles se dividem em dois exércitos principalmente. De um lado os abastados e investidores que em busca de sombra e água fresca para curtir a vida se servem da legislação portuguesa para acessar a vistos de permanência que lhes abrigam da violência e de outros problemas próprios do nosso país. Outro grupo, a grande maioria, se atira ao subemprego e a tarefas menos nobres para pagarem o pão de cada dia.

Uma parcela intermediária e bem menor são os estudantes, profissionais liberais e aposentados que encontram aqui terreno fértil para desenvolver suas ambições de qualidade de vida.

A figura do imigrante que faz o caminho de volta ao país que os aculturou, após Incutirem suas línguas, modos e costumes tem sido doloroso para muitos. E estas marcas estão nas mãos. Lavando pratos, carregando cimento, pintando paredes ou metendo a mão na massa(de alimentos, de tijolos, em chapas de aço ou de limpezas!) . De mãos calejadas, feridas, atrofiadas ou perdidas, as mãos revelam o preço pago pelo imigrante em sua viagem de volta ao seu lugar de origem. Traçam um recomeço. Isto se as suas mãos deixarem!

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Carlos Vasconcelos é jornalista brasileiro, natural de João Pessoa(PB), viveu 30 anos no Rio de Janeiro e atualmente está radicado em Portugal .

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