Em ano de eleição caem as cortinas do palco e desnudam-se perfis dos protagonistas. Mostra a tradição desta época que aliados não são fiéis, e sim convencionais. A política é um negócio partidário.
A pré-campanha antecipada pela prefeitura de São Paulo, a maior cidade do país, de PIB com status de país de porte pequeno, revela esse cenário. A entrada extraoficial de Fernando Haddad (PT), Gabriel Chalita (PMDB), José Serra (PSDB), Celso Russomano (PP), Netinho de Paula (PCdoB) e Tiririca (PR) no debate midiático revela ambições de seus partidos na escala federal.
Com exceção de José Serra, com o tucanato na escolta, e Fernando Haddad, o candidato do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, os outros indicados rondam as pesquisas com a força necessária para mexer no quadro político nacional, através da caneta presidencial, no que considero uma chantagem aceitável – não que seja necessária, mas tornou-se hábito da política nacional lançar candidatos e depois ‘vendê-los’ aos mais fortes, em troca de cargos e afins.
Sem especulações, fato é que os partidos envolvidos jogam descaradamente desse modo, principalmente os ‘aliados’ do PT. Cientes de que é sonho do petismo a capital paulistana, vislumbram neste momento a ótima oportunidade de pressionar o governo federal a ceder espaços, do contrário, mostram as pesquisas, seus candidatos vão prejudicar a esperada desenvoltura de Haddad.
A começar pelo PDT, que não foi supracitado. O deputado Paulinho da Força, descontente por não emplacar seu nome (Manoel Dias, secretário-geral do PDT) no Ministério do Trabalho, fechou com o governador tucano Geraldo Alckmin e herdará a secretaria de Trabalho. Paulinho controla o PDT paulista. Não bastasse isso, o não menos insatisfeito Carlos Lupi, ministro defenestrado, emendou conversa nada discreta com o presidenciável Aécio Neves, a quem já declarou simpatia na última eleição. Recado claro ao Planalto na tentativa de manter a pasta em Brasília. Não precisava. O ministro será o deputado Vieira da Cunha, próximo de Dilma, já divulgou a coluna dia 20 de Janeiro. O PDT só ganha a ira do Palácio.
A entrada de Tiririca como o prefeito do povão neste cenário é jogada de Valdemar da Costa Neto, dono do PR, para pressionar a presidente Dilma a nomear novo ministro dos Transportes, de onde saiu demitido Alfredo Nascimento. O PR mantém ‘independência’ nas votações do Congresso até que a presidente nomeie o deputado federal Luciano Castro (PR-RR) como ministro, assim quer a bancada.
Para mostrar sua força na cidade, e não menos assustar os petistas, o PCdoB mantém a candidatura de Netinho de Paula, o apresentador-pagodeiro, que ficou em terceiro lugar para Senador em 2010 e quase tirou Marta Suplicy do Senado. Assim guarda-se no Ministério do Esporte, com Aldo Rebelo.
Vem do vice-presidente Michel Temer o que o Planalto não esperava. Ele apadrinhou a ida de Chalita do PSB para o PMDB, o lançou pré-candidato em abril passado (foi o primeiro anunciado) e esta, das citadas ‘chantagens’, é a única candidatura dos ‘aliados’ que deve permanecer. O PMDB anda insatisfeito com o governo federal pela subrrepresentação, Temer anda afastado de Dilma, e ninguém confia em ninguém nessa dupla PT-PMDB.
A única jogada partidária que surtiu efeito até aqui foi o apoio do PRB à candidatura de Celso Russomano (PP). Fez o Planalto ceder e dar ao senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) o apagado Ministério da Pesca. Isso, por ora, incentiva os outros partidos a manterem seus candidatos.
Portanto, por este cenário, não será surpresa se, até junho, PR, PP-PRB e PCdoB tirarem do páreo seus candidatos para apoiar Fernando Haddad. Tudo, obviamente, passa por Lula, o consultor, e Dilma, a dona da caneta.